Arquitetura Sustentável: Reciclagem de Resíduos da Construção Civil

17-09-2010 13:35

Arquitetura Sustentável: Reciclagem de Resíduos da Construção Civil

Por Daniela Corcuera

Os resíduos de construção civil são gerados por demolições, obras em processo de renovação, em razão do desperdício de materiais resultante da característica artesanal da construção. No Brasil, 98% das obras ainda utilizam métodos tradicionais. Estudos sobre o tema apontam índices de 20% considerando apenas o entulho. Os valores referem-se à porcentagem da massa de materiais colocada em canteiro.

A reciclagem de entulho entra como solução para os materiais que são inevitavelmente perdidos. Esta medida permite a reutilização de matérias-primas, diminuindo a demanda por mais matéria e o consumo energético, além de proteger o meio-ambiente de mais e mais dejetos que levariam até milhões de anos para serem decompostos pela natureza. Há a transformação para matéria-prima, que serve tanto para obras prediais como para públicas.
Há dois caminhos para transformar as perdas em lucro: um para a iniciativa privada e outro para as prefeituras.

Embora ainda não existam estatísticas de todo o país, na média, o entulho que sai dos canteiros de obra brasileiros é composto (CAMARGO, 1995) basicamente por:

64% de argamassa;
30% de componentes de vedação (tijolos e blocos);
6% de outros materiais (concreto, pedra, areia, metálicos e plásticos).

É possível triturar mais de 90% do entulho (argamassas e componentes de vedação), para ser utilizado como agregado, na produção de componentes de construção e argamassas.

Objetivos da Reciclagem
Pinto (1994 b), define os principais objetivos dos programas de reciclagem:
melhoria do meio-ambiente pela redução do número de áreas de deposição clandestina, conseqüentemente reduzindo os gastos da administração pública com gerenciamento de entulho;

aumento da vida útil de aterros pela disposição organizada dos resíduos, formando bancos para utilização futura;

aumento da vida útil das jazidas de matéria-prima, na medida em que são substituídos por materiais reciclados;

produção de materiais de construção reciclados com baixo custo e ótimo desempenho.

O Processo e o Maquinário da Reciclagem
Enquanto as usinas de reciclagem municipais utilizam máquinas de mineração, as obras prediais são atendidas por um equipamento móvel de pequeno porte. O moinho tritura entulho à base de argila, concreto e restos de argamassa, formando um agregado fino para argamassa de assentamento ou revestimento. Para o entulho "na rua", 1,2 toneladas correspondem a 1 m3. Já para o entulho britado, 1,6 toneladas correspondem a 1 m3.

O processo de reciclagem municipal envolve todo um planejamento, uma infra-estrutura administrativa, pequenos locais de apoio para organização e triagem do entulho e a estação de reciclagem propriamente dita.

Há dois métodos utilizados para esta ação: moedores e britadores. O processo de reciclagem por britadores passa basicamente pela seleção, limpeza, trituração e classificação granulométrica dos materiais, para posterior utilização específica.

Qualidades Físico-Químicas dos Agregados Reciclados
Alguns levantamentos de desempenho das argamassas com agregados reciclados foram realizados por várias empresas, entre elas a Testin-Tecnologia de Materiais, Betontec-Tecnologia e Engenharia, e Teste-Engenharia do Concreto. (CAMARGO, 1995). Eles basearam-se em análises de comparação entre a argamassa tradicional e outra proveniente de entulho, além de vários ensaios de desempenho.

Os principais resultados demonstraram que o produto feito de entulho chega a apresentar resistência praticamente três vezes superior à argamassa tradicional. O engenheiro civil André Natenzon (CAMARGO, 1995), diretor comercial da Anvi, explica que isso se deve à pozolana, em maiores concentrações, proveniente da moagem de blocos cerâmicos. Ele ainda comenta a excelente resistência desse material ao arrancamento e afirma que o seu módulo de elasticidade é maior do que o de argamassas tradicionais.

Os reciclados de entulho são agregados e componentes com características variáveis que devem ser conhecidas, para poder se determinar a sua aplicação mais adequada.

Algumas restrições (CORBIOLI, 1996) quanto ao uso de agregados reciclados:
argamassas à base de entulho são porosas, não devendo ser utilizadas como impermeabilizantes;

de modo geral, os produtos à base de entulho reciclado não devem ser utilizados onde haja exigências estruturais;

gesso e EPS - poliestireno expandido são os grandes inimigos da reciclagem: a massa com gesso perde a liga, com EPS perde resistência.

Fonte:
ANAB-Brasil. - Associação Nacional Arquitetura Bioecológica.

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