O perfil de quem compra imóvel

10-01-2011 13:54

 

O perfil de quem compra imóvel

Apartamentos de dois quartos foram os campeões de lançamentos e vendas em 2010. Os imóveis de até R$ 200 mil serão a preferência dos consumidores pelos próximos anos

Publicado em 02/01/2011 | Daliane Nogueira

Livrar-se do aluguel, sair da casa dos pais ou simplesmente investir estão entre os motivos que levam uma pessoa a comprar um imóvel. Em Curitiba, grande parte desses consumidores está concentrada na faixa etária de 25 a 35 anos. Fato novo para a capital que, historicamente, registra como interessados em comprar imóveis pessoas entre 35 e 45 anos.

“Em 2010, o número de consumidores a partir dos 20 anos praticamente se igualou ao de compradores entre 30 e 40 anos”, diz o gestor executivo de vendas da regional Sul da MRV, Marcelo Alves. Ele atribui o resultado ao aumento do poder de compra da classe C e às facilidades de crédito como responsáveis por essa mudança. “Não é preciso ter muita poupança para conseguir dar entrada em um imóvel na planta e há facilidade de financiamento, o que viabiliza a compra por pessoas em início de carreira, por exemplo”.

Precauções

Cuidados na hora da compra evitam problemas futuros

A expansão no número de imóveis em construção em Curiti­ba trouxe o aumento nas reclamações junto a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa ao Consumidor (Procon-PR). Dados do órgão mostram que de ja­­neiro até 15 de dezembro de 2010 foram feitos 419 atendi­men­­­tos envolvendo a área de construção civil. No mesmo período de 2009 foram 312 atendimentos. As principais dúvidas dizem respeito aos contratos, com 88 reclamações em 2010, seguido da qualidade das obras com 84 atendimentos e o prazo de conclusão com 42 registros.

A advogada do escritório Ma­­rins Bertoldi Advogados Asso­cia­dos, com especialização em Di­­rei­­to Imobiliário Aplicado a Ges­­tão Empresarial, Ana Carolina Almeida Ribeiro, indica pesquisar o histórico da construtora an­­tes de fechar o negócio. “É interessante visitar obras concluídas, verificar se houve algum problema nas construções, até para conhecer os padrões de acabamento adotados pela empresa”, diz.

Quem já está com um problema em mãos, o melhor é a negociação. “As questões mais preocupantes são os vícios da construção, muitas vezes até com fa­­lhas estruturais”, comenta Ana. Ela recomenda que se documente as reclamações, mostrando ao construtor que o produto entregue não está de acordo com o me­­morial descritivo. “Em alguns casos, mantendo o canal de conversa, fica mais fácil resolver o problema”, aponta.

Outra medida importante é ler com muita atenção o contrato no momento da compra, especialmente sobre o prazo de conclusão da obra. “Na empolgação de comprar um imóvel, alguns consumidores não dão atenção a todos os pontos do contrato e depois acabam sofrendo as consequências. É normal haver um prazo de tolerância para atraso, por contingências de clima ou falta de material, por exemplo. Mas passado esse prazo o cliente pode reclamar”, explica.

Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo

Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo / Um lançamento em São José dos Pinhais foi o escolhido por Dayanni dos Santos e o marido Leonardo para dar adeus ao aluguel em 2011

Um lançamento em São José dos Pinhais foi o escolhido por Dayanni dos Santos e o marido Leonardo para dar adeus ao aluguel em 2011

Para o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mer­cado Imobiliário no Estado do Para­ná (Ademi-PR), Gustavo Selig, essa realidade fez com que os incorporadores passassem a lançar mais imóveis com dois quartos, que sempre ficaram para trás na comparação com os imóveis de três dormitórios.

Na pesquisa Perfil Imobiliário 2010, divulgada em novembro pela entidade, os apartamentos de dois quartos apresentaram participação de mercado de 46%. “Isso mostra a continuidade de um fenômeno que se iniciou em 2009, quando os imóveis com dois dormitórios superaram os de três em oferta. Em 2003, apenas 7% do total de imóveis da cidade era com dois quartos”, analisa.

Essa mudança fez com que a média de metro quadrado construído caísse na capital, conforme observa o consultor do Sindicato das In­­dústrias da Construção do Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Marcos Kahta­­lian. “Em 2008, a área média de imóveis construídos na cidade era de 152 metros quadrados. Em 2009, passou para 123 e, em 2010, fechou em cerca de 114 metros quadrados”, afirma.

Em quatro momentos, durante 2010, o Sinduscon-PR realizou pesquisas para desvendar os hábitos de consumo, as preferências e a intenção de compra relacionada a imóveis em Curitiba e Região Metropo­litana. Os últimos dados, divulgados em dezembro, mostram a intenção de compra dos consumidores curitibanos para os próximos três anos. Dos 15,23% que declararam ter a intenção de comprar um imóvel, 56,52% pretendem investir até

R$ 150 mil. Outros 21,74% gastariam entre R$ 150 mil e R$ 250 mil e apenas 6,52% investiriam em um imóvel de alto padrão, acima de R$ 400 mil. “Essa intenção de comprar imóveis mais baratos tem muita relação com o déficit habitacional, concentrado nas faixas de menor renda. Para esse padrão de imóveis também há facilidade de crédito, em muitos casos com subsídio do governo federal, no programa Minha Casa, Minha Vida”, diz Kahtalian.

É o caso do administrador de empresas Jonas Loyola de Araújo, de 27 anos, que comprou seu primeiro imóvel no início de 2010, no bairro Campo Comprido, para deixar de pagar aluguel. “Moro com minha noiva desde 2008 e comparando com a quantia que gastaríamos com o financiamento e com o aluguel, percebemos que valia a pena juntar as economias para dar a entrada”, comenta.

A compra do apartamento com dois dormitórios, que custou R$ 129.988, foi formalizada dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, tendo juros mais baixos. “O cenário positivo do mercado imobiliário e a grande quantidade de lançamentos, além das facilidades do programa, nos motivaram a partir para a compra de um imóvel na planta, até porque a entrada para um imóvel usado seria maior”, diz.

Região metropolitana

Outro dado bastante relevante demonstrado na pesquisa feita pelo Sinduscon-PR é o potencial revelado das cidades da região metropolitana. “Nos dados que levantamos na metade do ano, observou-se que há uma demanda grande por imóveis, que não está sendo plenamente atendida nas principais cidades da região metropolitana”, diz Hamil­ton Pinheiro Franck, presidente da entidade.

A pesquisa apontou que 10% das famílias que vivem nas cidades vizinhas a capital procuraram um imóvel durante o ano e destes 60% não encontraram o que buscavam. “Há uma grande oportunidade nessas cidades, onde os terrenos são mais baratos do que em Curitiba. Em 2010, observamos alguns lançamentos e essa tendência deve se acentuar pelos próximos anos”, prevê Kahtalian.

Dayanni dos Santos, 28 anos, aproveitou uma das oportunidades na região metropolitana e comprou um imóvel em São José dos Pinhais. O lançamento do empreendimento ocorreu em 2008, mas a compra foi finalizada em 2010. “Estávamos em uma lista da construtora e há poucos meses formalizamos o contrato com um subsídio de R$ 13,5 mil do Minha Casa, Minha Vida”, conta.

O preço do apartamento é de R$ 78 mil e Dayanni e o marido irão financiar cerca de R$ 50 mil desse valor. “As chaves serão entregues na primeira quinzena de janeiro e nós estamos contando os dias para sair do aluguel. O começo do ano será muito positivo”, comemora.

Fonte:Gazeta do Povo

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