A todo vapor, setor de imóveis busca recursos

12-11-2010 13:32

 

Operação no mercado mobiliário vai suprir a escassez de recursos provocada pelo esgotamento da poupança


 


 

marcelo prates

construção

Os recursos da poupança para a casa própria se esgotarão em três anos

 

Com a iminência do esgotamento da capacidade da caderneta de poupança de financiar o crédito imobiliário no país, a alternativa mais viável será o uso da securitização de recebíveis imobiliários, ainda pouco utilizada no Brasil. Conforme levantamento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os recursos provenientes da poupança devem se esgotar num prazo de dois a três anos.

 

Em 2001, foram financiadas 35.768 unidades habitacionais no país, com liberação de R$ 1,87 bilhão. Neste ano, até agosto, o número chegou a 263.701 imóveis, um total de R$ 34,02 bilhões. Enquanto o resultado de 2001 frente ao ano anterior teve variação negativa em termos de recursos da poupança empregados (-2,41%), o desempenho deste ano é bem diferente. De acordo com levantamento feito pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), no acumulado dos oito primeiros meses de 2010 ante igual período do ano anterior, houve uma alta de 73,82% nas liberações.

 

Apesar de os recursos da caderneta de poupança para financiamento de imóveis não serem suficientes para atender a demanda, que cresce numa velocidade maior, a assessora Econômica do Sinduscon, Ieda Maria Pereira Vasconcelos, descarta a possibilidade da falta de dinheiro para o setor. “Há outras formas de conseguir recursos, como a securitização imobiliária, que é muito utilizada em vários países”, observa.

 

A opinião é compartilhada pelo também economista e coordenador Sindical da entidade, Daniel Ítalo Richard Furletti. Ele ressalta que a securitização sedimentou-se no Brasil com a Lei 9.514/97. Com o quadro econômico favorável, marcado pelo crescimento do emprego e da renda, a operação conquistou viabilidade e pode suprir o mercado quando os recursos da poupança se tornarem insuficientes para atender à demanda. Ele afirma que o país já definiu o marco legal, que foi aprimorado pela Lei 10.931/04, que deu mais segurança ao mercado imobiliário.

 

Embora se verifique crescimento expressivo do crédito imobiliário, ainda há espaço para a expansão. Em agosto, o crédito imobiliário correspondeu a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme o Banco Central. Em outros países, o número é bem mais significativo, como no Japão (40%), Espanha (59%) e Austrália (84%). “A literatura econômica diz que um bom percentual de participação é de 50% do PIB de um país, o que eu considero um bom nível”, diz Furletti.

 

Além do ambiente econômico favorável, a demanda reprimida vai continuar fomentando o setor nos próximos anos. O déficit habitacional, conforme o Ministério das Cidades, é de 5,57 milhões de residências no país. Em Minas Gerais, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP), é de 476 mil, sendo 115 mil na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

 

Demanda cresce mais

 

Os recursos da caderneta de poupança sustentarão o atual modelo de financiamento habitacional por, no máximo, três anos. Por isso o mercado imobiliário está dedicado à proposição de alternativas que gerem liquidez para o setor.

 

Do total dos depósitos em poupança, 65% são obrigatoriamente direcionados para o financiamento de imóveis. Isso representa, hoje, um estoque de R$ 181,8 bilhões. Já os desembolsos com os novos contratos da casa própria deverão chegar este ano a R$ 70,8 bilhões (valor anualizado da média mensal de janeiro a agosto).

 

Além disso, o ritmo mensal de entrada de depósitos na caderneta de poupança, apesar de recorde, é menos da metade que o volume de financiamento habitacional.

 

Enquanto a caderneta apresentou uma média de depósitos de R$ 2,6 bilhões nos oito primeiros meses do ano, os novos contratos de imóveis chegaram a uma média de R$ 5,9 bilhões no mesmo período.

 

A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Acebip) coloca outro complicador nesse cenário. Segundo projeções da entidade, a demanda por crédito imobiliário poderá chegar a R$ 400 bilhões em 2013, quase seis vezes mais que a prevista para este ano. Parece muito, mas de acordo com dados da entidade, o Brasil é um dos países com menor relação entre financiamento habitacional e Produto Interno Bruto. Enquanto no Brasil essa relação é de 3%, na Holanda chega a 100%, e na Inglaterra, a 93%.

 

 

 

 


 

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