As edificações de concreto são eternas?

15-10-2010 15:27

 

As edificações de concreto são eternas?

Autor: Rafael Segal Braun

IVAN CARLOS MOURA DA CUNHA

Engenheiro Civil

Diretor Técnico e Comercial da TCE – Treinamento, Consultoria e Engenharia Ltda.

Obviamente que não. Mas não é o que pensa a maioria dos proprietários e locatários de imóveis. O concreto armado, tecnologia que tem o Brasil como um dos ícones mundiais, com empresas reconhecidamente competentes, algumas delas responsáveis por grandes obras em diversos países, é um elemento da construção civil que necessita de cuidados para a sua maior durabilidade.

Pode-se considerar que uma edificação necessita de cuidados em três momentos. O primeiro deles, sem dúvida, é a fase de projeto, que, se concebido da forma correta, propiciará uma obra sem maiores percalços e uma garantia de durabilidade. O concreto armado é, por concepção, projetado para não cair. São diversos fatores de majoração considerados nessa etapa que garantem uma segurança para os usuários dessa estrutura. O segundo é a fase de construção. Não adianta se ter um bom projeto se a construção não seguir fielmente as prescrições do mesmo e se não forem observadas as técnicas construtivas corretas. É o cuidado com a preparação e execução das estruturas que garantirá uma edificação segura e até mesmo de melhor qualidade, aí incluída a aparência. O terceiro e mais longo é a fase da utilização da edificação. Essa fase requer três cuidados: A correta utilização para qual originalmente foi concebida construção; a não alteração das suas características originais e a manutenção da mesma. A primeira é importantíssima, pois as estruturas em concreto são calculadas na fase de projeto para suportar um esforço em função de sua utilização. Então, se uma edificação foi projetada para uso residencial, a mesma pode não suportar novos esforços decorrentes de excessos de peso, caso passe a ser utilizada como um depósito de materiais, por exemplo. Recomenda-se aos proprietários que desejem alterar a concepção inicial de um imóvel, verificar junto a uma empresa de Engenharia Civil, sua adequação para o novo fim desejado. Essa empresa verificará a necessidade de uma previsão de reforço na estrutura. A segunda questão é a não alteração das características originais sem, novamente, verificar junto a um profissional ou empresa de engenharia. Paredes que são construídas ou retiradas podem gerar esforços não previstos nas estruturas, o que pode ser prejudicial à sua durabilidade. A terceira questão, relativa à utilização, é a manutenção. A manutenção é um elemento de preservação das condições das estruturas. E esse é um dos grandes problemas apresentados por edificações antigas. Em sua maioria não tem a manutenção necessária, ou mesmo correta, por profissional qualificado, que somada a usos inadequados, a longo prazo, poderá estabelecer sua depreciação além do suportável, sendo recomendável a manutenção periódica.

Segundo a Lei de Sitter, colaborador do CEB – Comitê Euro-international du Béton, os custos relativos às intervenções de manutenção preventiva são substancialmente menores que em casos de manutenção corretiva, os quais crescem em relação aos custos diretos em progressão geométrica, chegando a ser cinco vezes maior.

Se for analisada a questão da manutenção predial, notadamente em edifícios de característica popular, é fácil identificar uma total falta de conhecimento da parte de síndicos, administradores, proprietários e inquilinos quanto à necessidade dessa manutenção. Há de se considerar a relevante questão, nesses casos supracitados, que é o alto grau de inadimplência em relação às taxas condominiais, da parte de proprietários e inquilinos, porém é preciso o estabelecimento de um novo processo cultural quanto à importância dos serviços de manutenção, principalmente a preventiva.

Portanto, mesmo considerando-se que as patologias podem ser geradas desde o processo construtivo, é importante uma maior atenção com a manutenção, pois, embora o concreto seja um excelente elemento estrutural, ele não é eterno.

 

Advogado e colaborador do Jornal do Síndico de Campinas-SP

Fonte: Folha do Síndico (www.folhadosindico.com.br)

Bookmark and Share