Demanda aquecida

09-11-2010 09:25

 

Os altos preços de venda dos imóveis residenciais e comerciais têm preocupado aqueles que se sentem inseguros com relação aos rumos do mercado imobiliário. Alguns chegam a questionar se os altos valores não são resultado de uma bolha imobiliária semelhante à que ocorreu nos Estados Unidos em 2007, e que causou a crise financeira mundial.

Apesar dos preços, essa hipótese é descartada pelo Estudo sobre a existência ou não de “bolha” no mercado imobiliário brasileiro, encomendado pela Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Condições macroeconômicas sólidas e classe média ainda em forte expansão são alguns dos motivos que justificam esse resultado. Por isso, mesmo que os preços dos imóveis subam na proporção que ocorreu nos Estados Unidos antes de a bolha explodir (cerca de 11% ao ano), essa evolução poderá ser absorvida pela expansão da renda no Brasil, como aponta o trabalho.

Outra razão é a inexistência de processo de desregulamentação financeira em curso, ou seja, não estabelecimento de normas de controle da economia por parte do governo, que tem como um de seus reflexos o acirramento na concorrência entre instituições bancárias e a consequente queda nas margens de intermediação financeira. O resultado disso é uma tendência à conglomeração financeira e um aumento na escala de operação, via fusões e aquisições.

Segundo o estudo, países que passaram por bolha imobiliária que levaram à crise financeira grave tinham regulação prudencial falha. Ou seja, as regras que visam garantir um comportamento prudente das operadoras a fim de minimizar os efeitos danosos de um processo de insolvência – quando o devedor tem mais dívidas do que a quantidade de seus bens para saldá-las – falho, o que não é o caso do Brasil.

Coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), o professor Wanderley Ramalho também descarta a hipótese de bolha imobiliária semelhante à dos Estados Unidos. “A pressão sobre os preços aqui no Brasil tem ocorrido por força de uma demanda efetiva por imóveis que se encontrava latente, mas sem condições de se explicitar”, diz.

De acordo com ele, não está havendo uma supervalorização artificial dos imóveis em decorrência de linhas de crédito irresponsavelmente facilitadas, como ocorreu nos Estados Unidos. “O crédito imobiliário no Brasil é concedido segundo um modelo bem mais regulamentado e de acordo com regras bastante claras, o que implica maior segurança para o sistema”, completa.

*Publicado em 07/11/2010 / Estado de Minas / Imóveis

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