Falta de cimento dói no bolso e atrasa obras

20-05-2011 13:26

 

Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Daniel Castellano/ Gazeta do Povo / Abimael Hipólito vende material de construção e compara a falta de cimento a não encontrar arroz e feijão em um restaurante Abimael Hipólito vende material de construção e compara a falta de cimento a não encontrar arroz e feijão em um restaurante

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Quem ainda tem o produto faz lista de espera e determina quantidade máxima por cliente; preços já subiram cerca de 10%

Publicado em 20/05/2011 | João Pedro Schonarth

A falta de cimento nas lojas de material de construção de Curitiba tem feito com que os consumidores atrasem seus planos para entrar na casa nova. Para conseguir um saco do produto, o consumidor precisa se inscrever em filas de espera e só pode comprar uma quantidade limitada. O problema tem atingido grandes e pequenas redes de material de construção, que já começam a aumentar o preço do produto.

O professor universitário Daniel Weingaertner está construindo sua nova casa em Curitiba e não encontra cimento para continuar a obra dentro do prazo que ele previa inicialmente. “Eu não consigo comprar a quantidade necessária para a atual fase da obra. A justificativa é que não tem porque a fábrica não está fazendo mais entregas”, reclama o professor.

Venda de material de construção cai em abril

As vendas de material de construção caíram 4,14% em abril na comparação com março, segundo acompanhamento da Asso­ciação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Em relação a abril do ano passado, a queda foi de 1,41%. No quadrimestre, o faturamento acumulado ainda é 0,96% superior ao contabilizado no mesmo período em 2010.

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As grandes lojas de material de construção não se pronunciam sobre o assunto, mas há informações de que alguns estabelecimentos estariam limitando a compra por cliente a 25 sacas de 50 quilos por semana. Há ainda a formação de cadastro para uma fila de espera, em que o consumidor é avisado quando puder fazer a compra. Mas muitas lojas não podem nem adotar estes recursos por estar com o estoque zerado. “A situação é de calamidade, não temos cimento há 15 dias”, desabafa o proprietário Luiz Araújo.

A falta do cimento também tem consequências no bolso do cliente. O vendedor Márcio Machado está construindo uma casa nova no mesmo terreno em que tem hoje sua residência em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Há um ano, quando começou a obra, pagava R$ 18 pelo saco de cimento, mas hoje afirma não encontrá-lo por menos de R$ 25. “Faz uns dois meses que não acho cimento. Antes estava tudo normal. Já entrei na fila de espera, mas, como demorou para me passarem o produto, eu já saí. Para eu acabar a minha obra faltam uns 150 sacos, mas já vi que vai atrasar. Esperava sair da minha casa de madeira antes do inverno, mas agora sei que terei uma casa um pouco mais quentinha só no fim do ano”, lamenta Machado.

O proprietário de outra loja de material de construção, Abimael Hipólito, afirma que trabalha há 20 anos neste mercado e que nunca havia visto uma falta tão grande de cimento. “Há 45 dias estamos com problemas de fornecimento, o que acaba prejudicando minhas vendas, porque ir a uma loja de material de construção e não encontrar cimento é como ir a um restaurante e não ter arroz e feijão. Estão limitando as vendas para os clientes, já que estamos recebendo cerca de 300 sacos por semana e normalmente recebíamos mil”, lembra Hipólito.

Um dos problemas da falta de cimento seria a escassez de um insumo do cimento, a cinza seca. Este ingrediente é derivado da queima do carvão, tanto pela indústria siderúrgica quanto pelas termelétricas. Para abastecer o mercado interno, a cinza seca estaria sendo importada. “Nós, que trabalhamos na construção civil, temos percebido essa falta de cimento. Conver­sando com cimenteiras, ficamos sabendo que estão trazendo matéria-prima do Vietnã. E sabemos que o produto pronto também está vindo de fora”, afirma o empreiteiro de obras Newton Froes.

Grandes construtoras programam compras

O aquecimento do mercado fez com que as grandes consumidoras de cimento tivessem de trabalhar com antecedência para não ter problemas com o produto. “O mercado está aquecido e por isso estamos com um planejamento de longo prazo para nos abastecermos. Quem pede em cima da hora não encontra cimento”, afirma Ande Marin, executivo da construtora PDG Sul.

A Votorantim Cimentos, uma das maiores fabricantes de cimento do país, foi procurada pela reportagem para explicar os motivos da escassez de cimento para o varejo. Em nota, a empresa informa que suas unidades em Itajaí (SC) e Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba, operam normalmente para abastecer o “aquecido” mercado local. A empresa afirma ainda que está reforçando o suprimento da região trazendo, em caráter contingencial, um volume adicional de cimento de suas unidades em outros estados. Além disso, segundo a nota, nas próximas semanas serão inauguradas duas novas fábricas em Santa Catarina, “adicionando mais 1,9 milhão de toneladas de cimento por ano à Região Sul, incremento suficiente para sustentar o crescimento da demanda regional”, continua a nota.
 

Fonte:Gazeta do povo

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