Saiba como fugir da inflação do aluguel

03-02-2011 09:38

 

Saiba como fugir da inflação do aluguel

Com alta de mais de 11%, IGP-M encarece renovação do aluguel, mas locatários têm poucas opções de negociação

Klinger Portella, iG São Paulo | 01/02/2011 05:53

 

 

Foto: Divulgação

Em dez anos, IGP-M superou a inflação oficial sete vezes

Quatro letras fizeram o administrador paulistano João Paulo Vergueiro, 30 anos, perder o sono: IGP-M. O Índice Geral de Preços – Mercado, popularmente conhecido como a inflação do aluguel, é um indexador comumente usado em contratos comerciais. No caso de Vergueiro, era o índice para o reajuste do financiamento estudantil. “Em 2002, o IGP-M deu 25% e minha dívida subiu um quarto em um ano”, lembra. Desde então, decidiu ele, IGP-M nunca mais.

Quatro anos mais tarde, o administrador fechou a locação de um imóvel residencial, no bairro São Judas, zona sul de São Paulo. Ao receber a prévia do contrato, Vergueiro se deparou com o IGP-M como índice base para o reajuste do aluguel. “Disse que o IGP-M não refletia muito a realidade e a imobiliária aceitou a troca. Na versão seguinte do contrato, já vinha com o IPC-Fipe como base.”

“Faz quatro anos que estou com esse contrato e, apenas uma vez, o IGP-M veio um pouco acima do IPC”, compara. Uma análise do desempenho da inflação do aluguel contra o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) mostra que, nos últimos dez anos, o IGP-M teve desempenho acima da inflação oficial em sete oportunidades.

IGP-M, IPCA ou INCC?

Compare a variação do IGP-M frente à inflação oficial (IPCA) e ao Índice Nacional da Construção Civil (em % ao ano)

Fonte: Ipeadata

“O IGP-M é utilizado há muitos anos. Grande parte dos contratos de recursos produtivos estão amarrados a ele”, diz Angela Menezes, professora de finanças do Insper. “É um índice que reflete o perfil da economia de forma mais geral, enquanto o IPCA é mais generalista na questão dos preços”, completa.

Atualmente, o IGP-M conta com três índices componentes: o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do total; o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com 30%; e o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), com 10%.

Exceção

O caso de João Paulo Vergueiro pode ser classificado como uma raridade no mercado de locação de imóveis. Isso porque, dizem especialistas, o IGP-M é quase uma unanimidade nos contratos.

Segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi), cerca de 90% dos contratos de locação em São Paulo utilizam o IGP-M como indexador.

No Brasil, 17% dos domicílios são alugados, um contingente de cerca de 10 milhões de residências, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD), de 2009. Em 2004, eram cerca de 8 milhões de casas alugadas, que representavam 15% do total no País.

 

Segundo Roseli Hernandes, diretora comercial da Lello Imóveis – imobiliária que conta com cerca de 9 mil contratos de locação em São Paulo -, a alta de 11% observada em 2010 corrige a deflação observada em 2009, quando o indicador recuou 1,72%.

“O IGP-M vem trazer os aumentos que, de fato, aconteceram na economia. É uma reposição para o proprietário que perdeu com a deflação do ano anterior”, disse.

Roseli explica que há uma tendência de conversão entre os índices de inflação com o decorrer do tempo. A opinião é compartilhada por Angela Menezes, professora do Insper. “Com a tendência de estabilização da moeda muito forte, o comportamento dos índices é bem semelhante.”

A diretora da Lello diz que uma possível troca de índice no contrato de locação é “conversável”, mas, segundo ela, é muito incomum. “Ninguém questiona o índice que vai ser utilizado.”

Angela Menezes, do Insper, diz que, depois de assinado o contrato, não há meios de o inquilino tentar a mudança. Ela sugere que o locatário corte outros gastos para não ser surpreendido com a alta do aluguel e, em último caso, a dica é procurar outro imóvel.

Preços em alta

Para quem fechou o primeiro contrato de locação de imóvel em 2010 na cidade de São Paulo, a alta no valor chegou a 13,4%, levemente superior aos 11,32% observados pelo IGP-M acumulado no período. Os números fazem parte de um estudo do Secovi.

Com isso, quem fechou um novo acordo de locação no ano passado pagou 1,9% a mais pelo aluguel mensal do que se tivesse assinado o contrato em dezembro de 2009.

A entidade explica que a diferença é resultado da falta de imóveis para locação na capital paulista.

O Secovi ressalta que, entre 1998 e 2002, o aluguel novo subiu 10%, enquanto a inflação variou 42%. Já entre 2003 e 2004, os indicadores praticamente se igualaram e, a partir de 2005, observa-se um aumento real das locações, por conta da demanda maior que a oferta.

De acordo com o Secovi, os imóveis de um quarto tiveram os maiores reajustes em dezembro, com alta de 3,5%. Já os de dois dormitórios subiram 0,8%, enquanto as unidades com três quartos registraram aumento de 1,3%. 

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