TRAGÉDIA CLIMÁTICA DE JANEIRO DE 2011 - MINHAS IMPRESSÕES

TRAGÉDIA CLIMÁTICA DE JANEIRO DE 2011 - MINHAS IMPRESSÕES

 

TRAGÉDIA CLIMÁTICA DE JANEIRO DE 2011 - MINHAS IMPRESSÕES

 

 

Eng. Djalma Pinto Pessôa Neto*

 

 

Fato deste um relato das minhas impressões vivenciadas na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, por ocasião das mega-chuvas de janeiro último (12).

 

Depois de uma seqüência de chuvas que já vinham  acontecendo desde a última semana de dezembro do ano passado e, após uma pequena estiagem no início do mês de janeiro, chegamos a Nova Friburgo no dia 10 próximo passado, uma linda segunda-feira de sol.

 

As previsões metereológicas eram de pancadas de chuvas a tarde e noite, para o início daquela semana, 5 a 2 mm de índices pluviométricos. No dia 11 e principalmente na madrugada do dia 12, veio o dilúvio, chuvas de 300 mm em 30 horas, 280 mm de chuvas em 24 horas! Índices de chuvas também registrados no grande deslizamento de terras na Serra das Araras em 1967 (Guidicini e Nieble, 1984).

 

Estava presente (11), dormia na região da Rodovia Teresópolis-Friburgo, mais exatamente na zona urbano-rural de Conquista, a aproximadamente 20 Km do centro de Nova Friburgo. Chovia intensamente, raios e trovões, o fornecimento de energia foi interrompido às 11 da noite. As chuvas aumentaram, as previsões metereológicas falharam, trovões, clarões de

 

relâmpagos e estrondos provenientes de escorregamentos e deslizamentos de terra, ensurdeciam e aterrorizavam todos naquela fatídica noite.

 

 

  

   Sinais de deslizamentos e escorregamentos, cicatrizes por toda região de Nova Friburgo.

 

Ao despertar a paisagem havia mudado: “línguas” de deslizamentos de terra em encostas íngremes com 60 metros de comprimento, sinais evidentes de mica no solo silto-arenoso, uma verdadeira avalanche que ainda presenciava

 

pela manhã. Blocos de terra, árvores e detritos ainda rolavam encostas abaixo, ecoando estrondos assustadores.

 

Já se via, cunhas de ruptura, derivadas de movimentos rotacionais, bem definidas e escorregamentos de camadas vegetais de 1,0-1,5 m de espessura, por todo um talude natural de 20-30 m comprimento, numa distância de 100 m aproximadamente, que arrasou um antigo depósito de ferramentas que ficava no seu sopé. Um típico fenômeno de piping. Tudo isso num raio visual de uns 400 m.

 

A infiltração de água, ativando o mecanismo de poro-pressão (Pessoa Neto, 2004), foi responsável pela quantidade de escorregamentos e deslizamentos de terra, na localidade onde eu estava com minha família e nas regiões vizinhas profundamente afetadas, com um elevado número de óbitos.

 

Enfim a quantidade de chuvas foi enorme, fiquei em segurança em minha casa, assim como a maioria de meus vizinhos que ocupavam regularmente os terrenos do loteamento. Porém ficamos “ilhados” a 700 metros da rodovia RJ-130 (Friburgo-Teresópolis), que passou a ser um verdadeiro teatro de operações de guerra. A ponte de acesso sucumbiu e a estrada de acesso ao loteamento também ficou obstruída por quinze dias.

 

Seria desonesto omitir, em se tratando deste assunto, a Mesa Redonda Ocupação de “Encostas para Fins Urbanos” realizada em 2007 em Nova Friburgo, onde estiveram presentes autoridades representantes nacionais e regionais da ABMS-Associação Brasileira de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica, da ABGE-Associação Brasileiros de Geologia de Engenharia e Ambientais e do IPRJ-Instituto Politécnico da UERJ, assim como geotécnicos, engenheiros e arquitetos de Nova Friburgo e região. O evento foi promovido pelo Instituto de Engenharia de Nova Friburgo.

 

Haviam passado exatamente dois meses da ocorrência de chuvas intensas em Nova Friburgo, onde ocorreram vários deslizamentos de terra, que levaram a vida de uma dezena de pessoas e mais de uma centena de desabrigados (G1, 5/01/2007). Este evento de março de 2007 tratava da “importância dos estudos geológicos e geotécnicos como ferramenta de prevenção e minimização de riscos”.

 

Friburgo havia recentemente concluído o seu mapeamento geológico-geotécnico, e a situação era alarmante: milhares de pessoas residiam em área de risco, corriam  de vida.

 

O que fazer?

 

Infelizmente nesta Mesa Redonda, autoridades municipais convidadas não compareceram ao evento.

Diante da tragédia anunciada, foi proposta a criação de um sistema de alerta para o município, que não podemos ainda avaliar seus resultados, ou seja, se conseguiu minorar perdas de vidas. Foi proposta ainda a criação de um Instituto Municipal de Geotecnia, a semelhança da eficaz Geo-Rio, fundação geotécnica da cidade do Rio de Janeiro.

 

Apesar dos reconhecidos esforços que hoje a estruturada coordenadoria municipal de Defesa Civil, criada em 1988, teve em sua ativação, o evento foi de tamanha magnitude que, para tal, o desaparelhamento foi evidente.

 

 

Encerro aqui este relato pessoal e técnico, com um parágrafo extraído da minha tese de Mestrado apresentado á UFV em 2004:

 

“De uma forma geral, movimentos de massa, chamados no meio geotécnico de deslizamentos, podem ser vistos de duas formas: do ponto de vista da Geotecnia, busca-se investigar a estabilidade e, consequentemente as condições de equilíbrio da massa e solos e/ou rochas. Por outro lado, do ponto de vista da Geologia, esses fenômenos são, ao longo do tempo, considerados processos naturais de renovação da superfície terrestre, entendidos como ações exogênicas de rejuvenescimento da crosta terrestre.”

 

Obrigado pela sua atenção.

 

*Engenheiro Civil Djalma P. Pessôa Neto MSc

 

- Ex-Conselheiro da AEANF-Associação de Engenheiros e Arquitetos de Nova Friburgo

- Engenheiro Voluntário da Defesa Civil de Nova Friburgo em 1998-1999.

- Geotécnico pela UFV em 2004.

- Especialista em custos.

 - djalma.ppessoa@uol.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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